“ÚRSULA”: POSSÍVEIS CONTRIBUTOS PARA O ENFRENTAMENTO DA VISÃO CONSOLIDADA DE "ESCRAVIDÃO BENIGNA" E DOS SEUS CONSECTÁRIOS PARA O BRASIL NO TEMPO PRESENTE
DOI:
https://doi.org/10.56256/themis.v17i2.733Resumo
Úrsula, obra de autoria de Maria Firmina dos Reis, publicada na então província do Maranhão, em 1859, foi o primeiro romance abolicionista escrito por uma mulher nordestina negra no Brasil. Não apenas isso: foi, igualmente, a primeira obra brasileira responsável por garantir voz às vítimas da escravidão e às suas dores – individuais e coletivas. A despeito da sua relevância histórica e social, Úrsula permaneceu no ostracismo até 1962, quando foi redescoberta pelo bibliógrafo Horácio de Almeida. O artigo assume como objetivo central analisar, por intermédio de pesquisa bibliográfica e documental, os possíveis contributos de Úrsula para uma viragem epistemológica sobre a ideia da “escravidão benigna” e os seus consectários para o Brasil. Nesse sentido, o primeiro tópico apresenta um contexto conceitual e histórico da obra. Já o segundo, comenta sobre as inovações decorrentes de Úrsula, com destaque para o reconhecimento das vozes costumeiramente subalternizadas pelo sistema escravocrata, trazendo relevo às suas dores – individuais e coletivas, sobretudo, no que concerne às mulheres. Por derradeiro, o terceiro discute o possível contributo de Úrsula para uma nova perspectiva em torno da escravidão no Brasil, assim como sobre as vis permanências do nosso passado escravocrata no tempo presente.
Referências
ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. Nordestino uma invenção do falo. Uma história do gênero masculino (Nordeste – 1920/1940). Maceió: Edições Catavento, 2003.
CASARA, Rubens R R. Estado pós-democrático: neo-obscurantismo e gestão dos indesejáveis. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2017.
FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.
GOMES, Paulo. Brasil registra mais de 180 estupros por dia; número é o maior desde 2009. Folha de São Paulo. Disponível em: < https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/09/brasil-registra-mais-de-180-estupros-por-dia-numero-e-o-maior-desde-2009.shtml>. Acesso em: 20 set. 2019.
GRAHAM, Sandra L. Caetana diz não: histórias de mulheres da sociedade escravista brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11a. ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2011.
NASCIMENTO, Juliano Carrupt do. O negro e a mulher em Úrsula de Maria Firmina dos Reis. Rio de Janeiro: Caetés, 2009.
REIS, Maria Firmina dos. Úrsula. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
REZZUTTI, Paulo. Mulheres do Brasil: A história não contada. Rio de Janeiro: Leya, 2018.
RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Justificando, 2017.
RIBEIRO, Stephanie. Feminismo: um caminho longo à frente. In: GALLEGO, Esther Solano (Org.). O ódio como política – a reinvenção das direitas no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2018.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Sobre o autoritarismo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017.
TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. Apresentação e Tradução: Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Perspectiva, 2004.